I - Introdução:
Ditadura
(O que foi a Ditadura)
Com a IIGM, tratava-se do processo de internacionalização do capital que promoveu a hegemonia das multinacionais, dando origem a uma nova etapa do desenvolvimento do capitalismo para dar a continuidade e a novação ao sistema foram associados as várias burguesias regionais. No Brasil as elites dominantes perceberam os sintomas que podiam resultar em uma possível ruptura com a política de manipulação de massas – Então concretizaram o Golpe de Estado dia 31 de março de 1964, passando a exercer uma repressão. Este caráter multinacional da economia periférica se baseou primeiramente pela integração da economia às grandes corporações às custas do congelamento dos salários, que dependia da intervenção nos sindicatos e da anulação das conquistas precárias conseguidas pelo movimento social. E pela eliminação da possibilidade de qualquer tipo de pacto fundamentado na defesa do Capital Nacional.
A redução sufocava os legalistas no Rio de Janeiro e os que tentavam defender o Governo Constitucional de Jango. Iniciava-se a total repressão que durou 20 anos. Os militares impuseram os “ATOS INSTITUCIONAIS” que são fundamentos jurídicos da ditadura através de decretos e leis,
Instituiu-se o Ato Institucional nº 1 no qual instalou-se um regime que cancelava a constituição de 46 e promovia eleições indiretas para a presidência, então eleito o Marechal Castelo Branco. Existia uma nova ideologia fundamentado na necessidade da defesa da Segurança Nacional. A economia foi tornando-se tecnocrática. Criou-se o Ato Institucional nº 2 – que cancelava as eleições diretas para presidente e extingue os partidos políticos existentes. Este ato veio como uma resposta do Governo as vitórias da oposição. Ato Institucional nº 3 instituiu o bipartidarismo: ARENA x MDB e também o fim das eleições diretas para governadores de Estado. Ato Institucional nº 4 que impõe uma nova constituição. Criou-se também uma “moeda forte”, o cruzeiro não.
Esta política econômica favorecia a privatização da economia gerando recursos nas mãos do Poder Central nascendo a Reforma Tributária que ampliava a drenagem de recursos para o Governo Federal incentivando a privatização e a centralização do poder.
Com Costa e Silva o Brasil ganhou criação da EMBRATEL e da SUDAM. A oposição se ascendeu mas logo foi apagada. Os episódios mais significativos da oposição deste ano de total barulho de 68 foram o movimento estudantil, a manifestação do 100.000 no Rio de Janeiro, o confronto entre a faculdade de filosofia e os alunos de direito. Porém a obra prima deste ano foi o Ato Institucional nº 5 mais conhecido como AI5 que levou a repressão do seu auge ampliando os poderes do executivo determinando seu direito políticos além de fechar o Congresso Nacional e determinar pressões sem depender da decisão judicial, estabelecendo o fim dos direitos individuais. Em 69 Costa e Silva foi afastado instituíram-se mais atos institucionais. E toda esta trajetória foi correspondida com muita repressão, cuja assassinava e chegava ao cúmulo, pois os nossos maiores gênios da música foram todos exilados.
Existia um aquecimento” da economia brasileira durante o ano de 69. Ano em que o General Emílio Médici assume o poder e a repressão continua na “linha dura”. Cria-se um plano político o “Milagre” econômico – a tomada brutal de empréstimos externos para a construção interna “aparentando” uma prosperidade. Com o Milagre e seu devido “sucesso” surgiu a famosa frase: “Brasil! Ame-o ou deixe-o”. Mas termina tudo colorido pois as cores chegam às nossas televisões começando a colorir nosso país de novo.
O “milagre” de tornar uma brutal crise e para sustentar o nosso crescimento interno de nossa economia, tivemos que recorrer aos credores internacionais. Mas não podemos esquecer do detalhe que o mundo estoura em crise – sendo a época da crise do petróleo.
O regime político brasileiro sofria de alguns escândalos eleitorais financeiros. Os setores empresariais que se beneficiaram com o sistema agora se preocupavam com a corrosão interna contribuindo para a legitimidade do regime, sendo necessário um programa de “abertura”. “Em 74 General Geisel assume o Governo começando uma distensão para a democracia”. O governo reduziu a censura e a imprensa, especialmente os jornais, que uma vez já haviam publicado receitas culinárias agora publicavam uma série de reportagens sobre a corrupção e mordomia. A repressão e a abertura foram relaxados mas não extintas pois os “duros” passaram a agir clandestinamente. Podemos ver que a “abertura” é reprimir o possível e “abrir” o possível. Foi decretado o pacote de abril, e o Congresso foi concretizado como “ditadura de minoria” ocorreram greves para aquecer o movimento operário e sindical, tornando visível o estado de insatisfação.
Em 79 o General Figueiredo assume o poder mesmo reprimindo corrompendo, e abrindo o governo continuou marchando. Em termos de “abertura” veio a Lei da Anistia que permitiu a volta dos exilados e a liberação de presos políticos. O bipartidarismo foi abolido e o avanço da oposição mostrava cada vez mais suas diferenças. A crise econômica se caracterizava principalmente pela maxidesvalorização do cruzeiro. Ocorreram eleições diretas para governadores e a UNE foi reestruturada, mas mesmo assim o governo intervinha em sindicatos dos trabalhadores. O Governo tinha dúvidas de como poderia realizar a abertura sem abrir as portas e sem deixar ninguém passar pelas portas. Surgiu a vinculação do voto que impedia alianças partidárias e a crise brasileira se agravava cada vez mais. Podemos dizer que o fim da ditadura foi dada pelo esgotamento do “Milagre” que seria a inflação, a recessão, o desemprego, a crise econômica que acabou aumentando a oposição a ditadura.
1984, surge um grande movimento popular que uniu toda a oposição pela aprovação da “Emenda Dante de Oliveira” que restabelecida as eleições diretas para presidente. Surge o colégio eleitoral que elege o presidente indiretamente tendo de um cada Tancredo Neves da oposição e de outro Paulo Maluf, candidato pelos militares. Venceu Tancredo Neves, e em 1985 no início da “Nova República” Tancredo morre e Sarney assume a presidência.
II – Tropicalismo
O que foi o Movimento Tropicalista
Canções Tropicalistas: São canções que representavam um a mudança, em relação às canções de protesto e as românticas tanto em termos de música quanto de letra. Na música, deixavam transparecer a influencia internacional, especialmente de instrumentos eletrônicos, uma verdadeira revolução, dentro da MPB. Na letra na o deixavam antever posicionamento político, e priorizam elementos não considerados nas demais canções.
Tropicalismo
Em 1967, ocorreu dentro dos Festivais um ruptura na música popular brasileira com relação na forma hegemônica de cantar e ver o mundo. As canções que produziram esta ruptura foram denominadas tropicalistas.
“Domingo no Parque”, de Gilberto Gil e “Alegria, alegria” de Caetano Veloso sacudiram o Festival de Record e obtiveram respectivamente, 0 2º e o 4º lugar.
No tropicalismo, os músicos pertencem ao grupo dos malditos, não convencionais. A longa introdução de “É proibido proibir”(FIC, 68) é um excelente exemplo da presença desses músicos, cujo as experiências causavam grande impacto, e não se enquadravam nos padrões musicais aos quais o publico estava acostumado. Como contra ponto ouça-se “Sabiá”, de Tom Jobim, participante (e vencedor) do mesmo Festival, uma canção sem afinada com o padrão já consagrado da época.
“Alegria, alegria” e “Domingo no Parque” geraram polemicas imensas entre o publico e críticos. Mas não se negou sua importância, enquanto introdutoras, na MPB, de novos elementos, tal como estava ocorrendo na sociedade brasileira. A visão de mundo que perpassava as canções de protesto e “românticas” estava devastada. Se num primeiro momento (1964) isto ocorreu no setor político nos anos seguintes a sociedade, inclusive as camadas populares também não correspondiam às conclamações e palavras de ordem vinculadas pelas canções, apesar delas serem bem recebidas e aplaudidas.
O tropicalismo efetuou um processo de desconstrução da tradição musical, da ideologia do seu desenvolvimento e do nacionalismo popular.
Na visão tropicalista, não há uma verdade que o compositor deve anunciar. Se há, ela não é conhecida. A realidade esta fragmentada, ha múltiplos estímulos, indagações, fatores novos e ante tudo isto o compositor se encontra perplexo. Sua proposta é:
“Eu vou...
Por que não ?
Porque não
Por que não ?”
Os tropicalistas, “Trabalhando criticamente o acontecido nos Festivais, delinearam, com outros artistas, uma posição cultural de revisão das manifestações, decorrentes do golpe de 64. Tal atitude, após um primeiro momento de oposição à situação cultural e tentativas de reformulação dos processos de analise e compreensão da nova realidade, desembocava a mim a exigência de violência, visando a anulação das respostas anteriores, no esforço, de partir do zero para uma reconstrução”. Celso Favaretto, Tropicália. “Alegria, alegria”.
Era necessário elaborar uma nova maneira de encarar o mundo, pois o mundo mudara. E não mudara segundo o modelo idealizado e previsto pelos mestre inspiradores das canções de protesto e “românticas”.
É notável o discurso de Caetano Veloso, interpelando os que vaiavam quando da classificação de “É proibido proibir” (FIC,68)
“Mas isso a juventude que diz que quer tomar o poder? A mesma juventude que vai sempre, sempre, matar o velhote, o inimigo que morreu ontem! Vocês não estão entendendo nada!(...) Nós (ele e Gil) tivemos a coragem de entrar em todas as estruturas e sair delas. Se vocês são em política com são em estatística, estamos feitos.”
Os tropicalistas, contemplaram, refletiram e participaram, particularmente, abrindo espaços para o novo – instrumentos musicais eletrônicos, arranjos musicais eruditos – e efetuando os desvelamento de uma nova realidade. Pode-se ver nas composições tropicalistas uma atitude de provocação. Não povo cação para o confronto, provocação para acordar. Era preciso acordar para uma nova realidade, que não se assemelhava com aquela por eles Cantada e Sonhada, mas que, de fato, existia, e que era necessário, fosse encarada, sob pena da desvinculação entre MPB e sociedade brasileira.
Aqueles que acusam as canções tropicalistas de “difíceis”, desligadas da realidade nacional, por serem cultas e refinadas, dentro do universo de incultura, deixam de perceber que os tropicalistas no momento exato, salvaram do marasmo a MPB. E, por que só acentuar a erudição tropicalista, se ela fez o resgate do elemento cafona, tão presente na cultura popular brasileira, e que, até então, vinha sendo sistematicamente ignorado?
Entre os compositores de MPB o tropicalismo fez balançar as estruturas. A industria cultural, se agigantava e começava a assustar. Os integrantes do movimento tropicalista – Caetano, Gil, Tom, Zé, Gal, Os Mutantes (com Rita Lee), os Beat Boys – não pareciam assustar-se com o avanço desta industrialização. Existia um publico consumidor, a ele a industria cultural atendia e pretendia dirigir. Os tropicalistas aceitavam este dado e produziram canções que tratavam do imaginário deste publico consumidor de MPB. Reproduziram seu imaginário pela musica, textos e encenações que compunham a apresentação de suas musicas. O povo falado, cantado, orientado, nas canções de protesto e nas canções tropicalistas.
O tropicalismo mergulhou com sofreguidão e espanto no universo cultural brasileiro e colocou em cena elementos ainda não enfatizados. Os tropicalistas retratam: a ideologia do não comprometimento com as questões políticas, da preocupação com o individual (como se este independesse do coletivo), a renegação da temática social.
A canção tropicalista trouxe uma choque – o choque do novo. Revolucionou, desvendando uma realidade existente, totalmente diferente da sonhada, cantada, anunciada.
O tropicalismo é o réquiem de uma ideologia. Ideologia que resiste durante anos a uma nova ordem político-social, mas que acabou por submergir.
“... o tropicalismo apresenta tudo o que ficava fora do que Caetano chamou de “circulo do bom gosto”, quer dizer, aqueles músicos da classe media universitária fazendo musicas brasileira, e o efeito é culturalmente explosivo e contundentemente critico, naquele momento do paternalismo populista (...) Na tropicália a parodia não é apenas uma apresentação cafona (...) ou uma mera exibição do que seria grotesco na cultura popular de massa (...) a tropicália quer acabar justamente com a idéia do bom gosto como critério cultural, e não encastelar-se nele para fazer a critica do mau gosto (...) engloba tudo o que é contemporâneo num sentido muito amplo da contemporaneidade.”
Jose Miguel Winsk,
“Tropicália; tape-fragmento”
Contradições Antropofágicas do Tropicalismo
Em 1967, no III festival de Musica Popular, na TV Record, Caetano Veloso e Gilberto Gil irrompem no debate cultural da época, causando polêmicas com suas músicas Alegria, alegria (quarto lugar) e Domingo no Parque (segundo lugar), respectivamente. Acompanhados pelas guitarras dos Beat Boys e dos Mutantes, acabam incorporando dados modernos e atuais dentro da “geléia geral brasileira”, realçando a mistura de arcaísmo e modernização fundindo os elementos tradicionais da música popular brasileira com a modernidade da vida urbana e sua cultura de consumo a partir de um discurso de caráter fragmentário e descentrado como num filme de Glauber Rocha.
Inspirado no “Manifesto Pau-Brasil”, da Semana da Arte Moderna, de 1922, do poeta Oswald de Andrade, o Tropicalismo criou uma estética antropofágica contemporânea, que procurava deglutir os movimentos de vanguarda vindos de fora no “primitivismo” da cultura de uma relação de contrastes entre o moderno e o arcaico, o místico e o industrializado, o primitivo e o tecnológico. Suas alegorias e sua linguagem metafórica criavam um humor crítico (paródia) que tentava superar a polarização entre as posições estéticas defensoras da cultura engajada e da cultura de massa.
Assim é que, sem incorrer no discurso militante da esquerda, na música de protesto nem no “comercialismo” do iê – iê – iê, a Tropicália trabalhou a política e a estética num mesmo plano, mostrando as condições da nossa modernização subdesenvolvida a partir de uma outra forma de arte. Isso pode ser exemplificado pela música Tropicália (1968), de Caetano Veloso, uma espécie de símbolo e síntese das idéias do movimento:
Sobre a cabeça os aviões
Sob os meus pés os caminhões
Aponta contra os chapadões
Meu nariz
Eu organizo o movimento
Eu oriento o carnaval
Eu inauguro o monumento
No planalto central
Do país
Viva a bossa – sa – sa
Viva a palhoça – ça – ça – ça – ça
(…)
Domingo é fino da bossa
Segunda-feira está na fossa
Terça-feira vai a roça
Porém
O monumento é bem moderno
Não disse nada do meu terno
Que tudo mais vá pro inferno
Meu bem
Que tudo mais vá pro inferno
Meu bem
Viva a banda – da – da
Carmem Miranda – da – da – da – da
Como percebemos nesse trecho, uma tensão crítica entre o moderno e o arcaico percorre toda a letra da música “bossa” e “palhoça”; “fino da bossa” (alusão do programa de tevê), a mesma é acompanhada pelo arranjo da canção, que mistura ritmos populares brasileiros com música de vanguarda promovendo uma mistura do primitivo com o moderno.
O disco – manifesto do movimento, Tropicália ou panis et circensis até hoje, tendo se tornado a síntese das propostas estéticas da linguagem tropicalista. A maioria de público não entendia o movimento, odiados pela direita, por causa das atitudes provocadoras e longe dos padrões restritos da cultura e proposta de esquerda, a Tropicália pagaria o preço de sua ousadia até seu fim. O confronto se deu em 1968, em uma noite no TUCA durante o II Festival Internacional da Canção.
A platéia formada basicamente por universitários de esquerda recebe à Caetano Veloso com vaias, a reação dos mesmos à canção É proibido proibir também foi mal recebida, após o ocorrido Caetano Veloso interrompe sua apresentação e inicia um discurso que denuncia o conservadorismo político – cultural da esquerda. O Tropicalismo tentou responder de forma original. Entre a exigência de uma cultura politizada e a solicitação de uma cultura de consumo, optou pela tensão que poderia ser estabelecida entre esses dois pólos de concepção estética e política. Mas o Tropicalismo, dentro desse quadro de agitação e repressão político – cultural, mostraria sua importância ao deixar um caminho para a disposição anárquica e rebelde, que iria se refletir, na experiência contracultural da juventude brasileira, no início da década de 70.
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